Mais do mesmo delírio
Reconheço: o assunto já deu no saco. Não vejo muito mais o que dizer por ora a respeito. E eu nem me lembrava direito disso até o mês passado, depois de ter flertado (na verdade, eu bem mais do que flertei,mas não me casei) por meses com a ideia. Mas o Juliano Torres insiste com seus desatinos. Aí vejo-me obrigado a replicar.
"Insistência" é o termo correto. Quem quer que leia a resposta dele à minha tréplica verá que ele praticamente se detêm em repetir os mesmos argumentos (quando não chavões e truísmos) refutados anteriormente. Por isso, dispenso-me de comentar linha por linha o que ele escreveu ontem. Não vale a pena falar com uma porta, nem dialogar em círculos. Mas faço uma notável excepção a estes 3 exertos, que considero deveras interessantes por mostrarem bem o funcionamento de uma mente desligada da realidade e seriamente afectada de revolucionarismo:
Você deve se do tipo de pessoa que acha que não acontecerá nada de novo, mas para seu desgosto, as instituições evoluem e o novo conhecimento e usado para permitir melhor bem estar, e não para glorificar a nação ou o "povo".
O anarco-capitalismo pode ser comprovado através da lógica e de diversos pequenos exemplos que ocorrem e ocorreram na história. O estado sim é contra a natureza humana, pois a função do estado é fazer com que as pessoas sejam o que elas não são, e já no anarco-capitalismo, as pessoas tem liberdade para serem o que quiser, sem entrar em contradição com sua natureza.
1) Repare-se logo no uso rasteiro e descontextualizado da expressão "evolução". "Evolução", aqui, é tomada como sinônimo de progresso. Tal identificação foi feita pela primeira vez, até onde sei, por Ernest Haeckel, um dos popularizadores da biologia darwinista. Mas, ao contrário do naturalista inglês, e inspirado pelo pensamento de sua época, Haeckel conferiu ao termo a identidade de progresso que hoje em dia, infelizmente, tornou-se um topos em várias latitudes. Sim, pois evoluir, para Darwin, era um processo arbitrário, atélico, sem um fim predeterminado. Logo não é de bom feitio utilizar tal idéia.
Também é falso dizer que "o novo conhecimento e usado para permitir melhor bem estar, e não para glorificar a nação ou o 'povo'", pois pode ser usado para vários fins. E inclusive, para a nação ou o povo, como se vê pelos movimentos nacionalistas.
2)Tá certo, então me responde o seguinte: como é que a "ordem natural" ( no dizer de Hans-Herman Hoppe), isto é, a forma normal e perfeitamente condizente com a natureza humana é justamenta aquela que só existe nas construções teóricas de meia dúzia de pessoas? Como é possível que o sistema normal de organização social seja precisamente aquele que não se encontra na generalidade das sociedades e nem mesmo ao longo dos tempos? Sim, pois ele deveria ser a regra e o Estado a exceção. O que se vê, porém, ao pesquisar a História humana, é que o Estado está normalmente presente, por meio dos mais variados arranjos (república presidencialista democrática, monarquia absolutista, monarquia constitucional, cidade-Estado monárquica, etc.), enquanto que o anarco-capitalismo ia posteriorinexiste verdadeiramente, sendo apenas encontrados alguns poucos exemplos de sociedades que existiram de forma aproximada ao anarco-capitalismo por algum tempo, sociedades essas que, além de serem poucas, estão dispersas no tempo e no espaço. Como é possível que a Humanidade inteira tenha se enganado ao longo de milênios e só agora um punhado de teóricos (dos quais o Juliano se posiciona como grande escudeiro) é que tenham percebido a verdade? Oh, que mal terrível, eu, questionando o Anunciador da Boa Nova Anarco-capitalista! Sinceramente, é preciso ser muito tolo para levar a sério essa hipótese.
Não existe meia-verdade. Se você acha que a representação polítia justifica tudo, o estado nazista foi criado pelos metodos representativo e exterminou os judeus com o amparo da lei, então você acha isso certo?
O que atrapalha a evolução espontânea para uma sociedae libertária? O ESTADO. Então é lógico que críticas devem ser feitas a ele, mas todo o pensamento liberário é relativo ao indivíduo, e não a algum suposto ente coletivo.
1) Nunca disse que a representação política justifica tudo. Deixe de vigarice!
2)De novo, o evolucionismo revolucionário juliânico. Que, aliás, enfrenta uma contradição pesada: se "evolução" é um processo arbitrário, como poderia ter um fim pré-determinado?
Mas isso não esgota, nem de longe, o problema da coisa.Fica claro no parágrafo supracitado que o Juliano entende que o anarco-capitalismo é uma aspiração geral, a que todos ou quase todos os homens nutriram e nutrem desde séculos e que só não o realizam por causa da maldade estatal. Nem pensa, por um segundinho sequer, se as pessoas realmente querem o fim do Estado (a resposta é decididamente não), ou ainda que essas mesmas pessoas cobram do Estado serviços públicos. É uma manifestação inequívoca da mentalidade revolucionária. Conforme já demonstrou o filósofo Olavo de Carvalho, '“Mentalidade revolucionária” é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao “tribunal da História”'. Imaginando o hipotético futuro radioso anarco-capitalista, Juliano Torres já começa a julgar o mundo passado e presente(isto é, o mundo efectivo, real, concreto) à luz de seu projecto futurista. O futuro imaginado passa a ter uma existência "mais substancial" e a comandar retroactivamente o presente e o passado. Uma inversão total, como se vê, já que o futuro é moldade pelo passado e pelo presente; não os molda. É a inversão do revolucionária.
Claro que não; o que acontece na vida dos outros é a sua conta, não é? Você tem que resguardar o bem geral não é? Continue se fingindo de altruísta e paladino da justiça.
Esse veio como resposta ao, digamos, "entendimento" do rapaz de Direito e Justiça. Segundo o rapaz, o Direito não tem um papel social, é só algo existente entre as partes da lide. Portanto, seguindo esse raciocínio, se uma pessoa mata por aí isso é assunto pura e exclusivamente do assassino e dos assassinados. Não há nenhuma agressão à sociedade com tal acto. Aliás, "sociedade" é no mesmo uma convenção: é formada por indivíduos autistas, que, por acaso, vivem no mesmo espaço físico.
A piada ele deu-ma já pronta. Nem tem muita graça. E não há fingimento algum aí, apenas o reconhecimento da realidade.
Bem por mim é só. Mas gostaria de terminar recomendando ao Juliano que lesse alguns livros sobre a mentalidade revolucionária, como O Homem Revoltado, de Albert Camus, ou várias obras de Eric Voegelin (A Nova Ciência da Política; Science, Politics and Gnosticism, além dos artigos de Olavo de Carvalho sobre o tema. Isso faria ao rapaz uma surpresa enorme: ele veria que, com todo o seu discurso anti-socialista, ele está mais perto deles do que imagina, já que também é um revolucionário empenhado em "mudar o mundo", logicamente no sentido de "salvá-lo". Se ele ler isso direitinho, bem como as conseqüências desse pensar, creio que melhorará muito.
Também recomendaria que ele lesse mais sobre História, Direito, Filosofia e Ciência Política. Mas nada de Libertarianismo ou Anarco-capitalismo. Que procure aprender coisas distintas, sob ângulos diferentes, buscando entender com a máxima seriedade e não prejulgar em nome de alguma ideologia.
Nada disso dispensa uma boa observação nua, crua e simples aos factos da vida diária, sem as deformações ideológicas. É um bom antídoto contra o abstraccionismo. E, se for o caso, que ele busque falar com algum bom psicólogo ou psiquiatra.
"Insistência" é o termo correto. Quem quer que leia a resposta dele à minha tréplica verá que ele praticamente se detêm em repetir os mesmos argumentos (quando não chavões e truísmos) refutados anteriormente. Por isso, dispenso-me de comentar linha por linha o que ele escreveu ontem. Não vale a pena falar com uma porta, nem dialogar em círculos. Mas faço uma notável excepção a estes 3 exertos, que considero deveras interessantes por mostrarem bem o funcionamento de uma mente desligada da realidade e seriamente afectada de revolucionarismo:
Você deve se do tipo de pessoa que acha que não acontecerá nada de novo, mas para seu desgosto, as instituições evoluem e o novo conhecimento e usado para permitir melhor bem estar, e não para glorificar a nação ou o "povo".
O anarco-capitalismo pode ser comprovado através da lógica e de diversos pequenos exemplos que ocorrem e ocorreram na história. O estado sim é contra a natureza humana, pois a função do estado é fazer com que as pessoas sejam o que elas não são, e já no anarco-capitalismo, as pessoas tem liberdade para serem o que quiser, sem entrar em contradição com sua natureza.
1) Repare-se logo no uso rasteiro e descontextualizado da expressão "evolução". "Evolução", aqui, é tomada como sinônimo de progresso. Tal identificação foi feita pela primeira vez, até onde sei, por Ernest Haeckel, um dos popularizadores da biologia darwinista. Mas, ao contrário do naturalista inglês, e inspirado pelo pensamento de sua época, Haeckel conferiu ao termo a identidade de progresso que hoje em dia, infelizmente, tornou-se um topos em várias latitudes. Sim, pois evoluir, para Darwin, era um processo arbitrário, atélico, sem um fim predeterminado. Logo não é de bom feitio utilizar tal idéia.
Também é falso dizer que "o novo conhecimento e usado para permitir melhor bem estar, e não para glorificar a nação ou o 'povo'", pois pode ser usado para vários fins. E inclusive, para a nação ou o povo, como se vê pelos movimentos nacionalistas.
2)Tá certo, então me responde o seguinte: como é que a "ordem natural" ( no dizer de Hans-Herman Hoppe), isto é, a forma normal e perfeitamente condizente com a natureza humana é justamenta aquela que só existe nas construções teóricas de meia dúzia de pessoas? Como é possível que o sistema normal de organização social seja precisamente aquele que não se encontra na generalidade das sociedades e nem mesmo ao longo dos tempos? Sim, pois ele deveria ser a regra e o Estado a exceção. O que se vê, porém, ao pesquisar a História humana, é que o Estado está normalmente presente, por meio dos mais variados arranjos (república presidencialista democrática, monarquia absolutista, monarquia constitucional, cidade-Estado monárquica, etc.), enquanto que o anarco-capitalismo ia posteriorinexiste verdadeiramente, sendo apenas encontrados alguns poucos exemplos de sociedades que existiram de forma aproximada ao anarco-capitalismo por algum tempo, sociedades essas que, além de serem poucas, estão dispersas no tempo e no espaço. Como é possível que a Humanidade inteira tenha se enganado ao longo de milênios e só agora um punhado de teóricos (dos quais o Juliano se posiciona como grande escudeiro) é que tenham percebido a verdade? Oh, que mal terrível, eu, questionando o Anunciador da Boa Nova Anarco-capitalista! Sinceramente, é preciso ser muito tolo para levar a sério essa hipótese.
Não existe meia-verdade. Se você acha que a representação polítia justifica tudo, o estado nazista foi criado pelos metodos representativo e exterminou os judeus com o amparo da lei, então você acha isso certo?
O que atrapalha a evolução espontânea para uma sociedae libertária? O ESTADO. Então é lógico que críticas devem ser feitas a ele, mas todo o pensamento liberário é relativo ao indivíduo, e não a algum suposto ente coletivo.
1) Nunca disse que a representação política justifica tudo. Deixe de vigarice!
2)De novo, o evolucionismo revolucionário juliânico. Que, aliás, enfrenta uma contradição pesada: se "evolução" é um processo arbitrário, como poderia ter um fim pré-determinado?
Mas isso não esgota, nem de longe, o problema da coisa.Fica claro no parágrafo supracitado que o Juliano entende que o anarco-capitalismo é uma aspiração geral, a que todos ou quase todos os homens nutriram e nutrem desde séculos e que só não o realizam por causa da maldade estatal. Nem pensa, por um segundinho sequer, se as pessoas realmente querem o fim do Estado (a resposta é decididamente não), ou ainda que essas mesmas pessoas cobram do Estado serviços públicos. É uma manifestação inequívoca da mentalidade revolucionária. Conforme já demonstrou o filósofo Olavo de Carvalho, '“Mentalidade revolucionária” é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao “tribunal da História”'. Imaginando o hipotético futuro radioso anarco-capitalista, Juliano Torres já começa a julgar o mundo passado e presente(isto é, o mundo efectivo, real, concreto) à luz de seu projecto futurista. O futuro imaginado passa a ter uma existência "mais substancial" e a comandar retroactivamente o presente e o passado. Uma inversão total, como se vê, já que o futuro é moldade pelo passado e pelo presente; não os molda. É a inversão do revolucionária.
Claro que não; o que acontece na vida dos outros é a sua conta, não é? Você tem que resguardar o bem geral não é? Continue se fingindo de altruísta e paladino da justiça.
Esse veio como resposta ao, digamos, "entendimento" do rapaz de Direito e Justiça. Segundo o rapaz, o Direito não tem um papel social, é só algo existente entre as partes da lide. Portanto, seguindo esse raciocínio, se uma pessoa mata por aí isso é assunto pura e exclusivamente do assassino e dos assassinados. Não há nenhuma agressão à sociedade com tal acto. Aliás, "sociedade" é no mesmo uma convenção: é formada por indivíduos autistas, que, por acaso, vivem no mesmo espaço físico.
A piada ele deu-ma já pronta. Nem tem muita graça. E não há fingimento algum aí, apenas o reconhecimento da realidade.
Bem por mim é só. Mas gostaria de terminar recomendando ao Juliano que lesse alguns livros sobre a mentalidade revolucionária, como O Homem Revoltado, de Albert Camus, ou várias obras de Eric Voegelin (A Nova Ciência da Política; Science, Politics and Gnosticism, além dos artigos de Olavo de Carvalho sobre o tema. Isso faria ao rapaz uma surpresa enorme: ele veria que, com todo o seu discurso anti-socialista, ele está mais perto deles do que imagina, já que também é um revolucionário empenhado em "mudar o mundo", logicamente no sentido de "salvá-lo". Se ele ler isso direitinho, bem como as conseqüências desse pensar, creio que melhorará muito.
Também recomendaria que ele lesse mais sobre História, Direito, Filosofia e Ciência Política. Mas nada de Libertarianismo ou Anarco-capitalismo. Que procure aprender coisas distintas, sob ângulos diferentes, buscando entender com a máxima seriedade e não prejulgar em nome de alguma ideologia.
Nada disso dispensa uma boa observação nua, crua e simples aos factos da vida diária, sem as deformações ideológicas. É um bom antídoto contra o abstraccionismo. E, se for o caso, que ele busque falar com algum bom psicólogo ou psiquiatra.
Marcadores: Anarco-Capitalismo, Liberalismo, Mentalidade Revolucionária, Política
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