Em Praga
Depois de Munique, seguimos para Praga. Para nós, era um novo país a explorar, e, para mim especialmente, a viagem teria algo mais pois, além de conhecer mais um país (o 6º até entao), ia, pela primeira vez na vida conocer um país do leste europeu, um país que já havia conhecido na pele os horrores do comunismo.
Já antes de chegarmos à cidade das mil torres, era perceptível o desnível entre a República Tcheca e os outros países europeus, especialmente àqueles que estávamos visitando. Notei logo um certo sucateamento das coisas, como se aquelas terras tivessem parado no tempo, décadas atrás. Tal a situaçao, aliada principalmente às poucas informaçoes que tínhamos, que a irma do meu amigo perguntou se a República Tcheca era um país de Primeiro Mundo, ao que respondi com algo como “em termos”.
Finalmente, Praga, situada na Bohemia central, cortada pelo rio Vltava. Estaçao pobre e um tanto isolada, gente nos abordando para vagas em hotéis, muita pressa para encontrar uma oficina de turismo e trocar dinheiro (em tempo: os tchecos ainda nao adotaram o euro). Tivemos a sorte de encontrarmos 2 policiais serviciais que falavam um pouco de inglês (no Leste, por razoes histórico-políticas, poucas pessoas falam inglês). Seguimos em frente. Descemos pela avenida Venceslau e, depois de muito procurar, encontramos nossa pensao.
Pequena, num bairro de aspecto débil, a pensao nao era lá essas coisas. Aliás, era bem rudimentar mesmo, mas viagem de estudante é assim mesmo, e em Praga, se queres um alojamento com bastante conforto, prepare-se para desembolsar uma boa quantia! Pagamos em euros mesmo e saímos para trocar nosso dinheiro e conhecer algo da cidade.
A República Tcheca ainda adota, como moeda, a Coroa Tcheca (koruna česká), uma moeda bastante desvalorizada, ao ponto de, quando fizemos o câmbio, vimos que 1 euro eram 30 korun. Isso nos deixou um bocado atordoados com a moeda local, pois os preços se exprimem em grandes números e tínhamos que fazer uma conversao da qual nao estávamos acostumados. Para se ter uma idéia, deixei de comprar uma camiseta preta com os dizeres “KGB Still Watching You?!” porque custava 200 coroas e nao converti direito (droga, perdi essa oportunidade!!!).
Mas isso nao nos impediu, em absoluto, de conhecer a capital do país de Václav Havel e Franz Kafka. O Castelo de Praga, datado do ano 870, enorme e magnífico, foi a sede do poder de reis tchecos, soberanos do Sacro Imperio Romano Germânico, quando o país fazia parte deste) e presidentes da Tchecoslováquia e República Tcheca. Nao vejo como nao se maravillar com os museus de objetos medievais do local, suas estatuas, suas jóias da coroa bohemia. Sem falar na linda Catedral de Sao Vitus, talvez uma das melhores que vi na Europa, rivalizando com as de Salamanca e Colônia. Tem ainda o belo Hradčany , o distrito ao redor do castelo.
Nao se pode apreciar Praga devidamente sem cruzar, com calma, a Ponte Sao Carlos, que corta o Vltava. O fizemos duas vezes, obviamente; uma para ir e outra para voltar do Castelo. Impressionou-me muito a quantidade de pessoas, os tipos curiosos, as estatuas, os vendedores ambulantes (principalmentes de reliquias do passado vermelho). Enfim, exótico. Em virtude de toda essa riqueza é que se debe andar com vagar na ponte. Como apreciá-la com presa, olhando apenas para a frente?
Nao se pode perder, jamais, o Malá Strana (Pequeno Quarteirao), bairro bastante picaresco e histórico, na mesma margem do Castelo. Na Idade Média, foi o centro dominante da colonizaçao alema na cidade.
Na margen oposta ao Castelo, a Cidade antiga, onde estávamos instalados.
Lamento bastante, em minha estadia na cidade, nao ter podido visitar o Museu do Comunismo. Sem dúvida, seria uma experiencia interessante ver de perto os horrores do regima vermelho contados por quem sofreu tudo aquilo. Se lugares como esse tivessem mais visibilidade, acredito firmemente que muita gente que cultua Lenin, Marx e Fidel Castro iria rever melhor suas idéias.
Mas, ainda assim, pude ver em parte o estado do país. A impressao peral que tive foi a de um país com um passado grandioso, mas que era dilapidado há décadas. Como um príncipe de vestes rasgadas, essa talvez seja a melhor idéia que se pode ter de Praga. Acho que nao preciso dizer que boa parte disso é por culpa do comunismo.
Gostamos da cidade, mas nos pintaram dela um quadro tao maravilhoso e belo que saímos de lá com uma sensaçao de falta. Nao sei se exageraram eles ao descrever a cidade ou nós ao imaginá-la, mas tudo bem. Ainda volto para lá para apreciar-lhe a beleza, o Museu do Comunismo e comprar a bendita camiseta, sem falar de outras relíquias dos tempos socialistas.
Antes de completar o terceiro dia nosso em Praga, bem cedo pela manha, tomamos o trem para Berlim.
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